segunda-feira, 17 de novembro de 2008

1965/Rádio Piratininga


Desde cedo me interessei por rádio. Garoto ainda, já possuía radinhos de galena, que só eram audíveis através de fones, e que captavam duas, no máximo tres estações. Todas com o mesmo nivel de som. Me divertia muito com isso. Ainda hoje coleciono radinhos de pilha. 
Meu sonho mesmo, era trabalhar em uma emissora de rádio, mesmo antes de saber que, na madrugada de 9 de julho de 1934, meu velho e inesquecível pai, Guillermo Hohagen, foi o responsável pela primeira transmissão radiofônica Brasil-Argentina, promovida pelo jornal "Crítica", do qual era correspondente.
A Rádio Piratininga pertencia a familia Leuzzi, que era do interior, comandada por Miguel Leuzzi, médico e político, e tinha nos jovens membros do clã, a responsabilidade de dirigí-la.Mas a rapaziada não era do ramo, e a emissora era comandada por mãos estranhas, muitas vezes competentes e outras menos. 
Wilson Brasil foi um destes competentes, que segurou o quanto pode a emissora. Lembro-me o quanto sofria, quando nos dias de pagamento de salários, passava alguém do clã e limpava o caixa. 
A rádio  era praticamente sustentada pela Tatuzinho a cachaça da moda. Por lá passaram grandes nomes como Salomão Esper, Silvio Santos, Walter Silva, Lencione Filho, Reinaldo Santos, que comandavam programas como "Torre de Babel", "A Galera do Nelson", "Juvêncio, o justiceiro do sertão", e tinha uma característica: as badaladas dos sinos do mosteiro de São Bento, anunciavam a hora certa, narradas por Salomão Esper.
Nessa época, levados pelas mãos de Berto Filho, tínhamos um programa sui-generis na emissora. Chamava-se "Bossa à Noite". Entrava no ar a meia noite e ia até as 2 da madrugada. Começamos Haya Hohagen, Claudio Mamberti, Renato Correia de Castro e eu. 
A equipe durou pouco, Renatão e Claudio pendiam para comentários políticos durante o programa, o que nos desagradava. Nós quatro, fazíamos comentários sobre os novos talentos, sobre músicas lançadas, mas não queríamos no programa, externar nossas posições políticas, o que era também a orientação da emissora.  Aquele era um programa músical.  Só executava fitas gravadas de shows de bossa nova . Era proibido tocar discos. Como produziamos muitos shows, tínhamos farto material. 
Recebíamos visita dos artistas, que se apresentavam ao vivo. O estúdio da rádio, tinha um maravilhoso piano de cauda Steinway, que mandamos afinar para recepcionar nossos convidados. Assim foi com o Jongo Trio, que lançou seu disco no programa sem tocar uma só faixa. Tudo ao vivo. Assim foi com Zimbo Trio e vários outros.
Começamos com fitas de nossos shows, mas aos poucos fomos exibindo material, que outros produtores nos enviavam. Lá apresentamos musicais famosos, como Arena conta Zumbi e outros. O programa cresceu bastante, e o diretor passou a ceder pessoal da técnica para gravar até shows que aconteciam fora da cidade. 
Nosso público era bem qualificado. No começo ligávamos para o pessoal avisando que íamos por seu  show no ar. Claro que amigos e parentes eram imediatamente acionados, e assim, ia aumentando a audiência. 
Muitas vezes, eles é que ligavam, pra perguntar se estariam no programa daquela noite. Lembro me de uma ouvinte em especial, que nos pedia para avisá-la todas as vezes que seu filho cantasse em nosso programa. Chamava-se Maria Amélia. Seu filho, um jovem estudante de 18 anos de nome Francisco. Chico. Chico Buarque de Holanda.

Na foto acima, o amigo Berto Filho, em visita recente a São Paulo.

6 comentários:

sabidona disse...

Adorei!!

Borba disse...

lafa, eu nao sabia que voce colecionava radinhos. Agora, radinho de galena, isso foi demais!
manda bala!!

Borba

Agromania disse...

Oi Lafa...adorei...principalmente o grand finale...vc sabe...paixão antiga!!!

Adalberto disse...

Fiquei feliz ao navegar pela internet e encontrar um velho companheiro da Radio Piratininga. Eu fiz parte do elenco da Radionovela do Juvencio o Justiceiro do Sertão comandado pelo Vicente Lia e dirigido pelo inesquecivel Joralista Reinaldo Santos. Temos uma pagina no orkut quem quiser aparecer sera bem vindo
Grande abraco
Adalberto Amaral

Unknown disse...

A programação da Rádio Piratinga era de categoria. Lembro-me de Carlinhos Vidal, sucesso de ontem, hoje e amanhã.

Unknown disse...

Carlinhos Vidal, Ferreira Martins, Juvêncio, Justiceiro do Sertão. Como foi bom aqueles tempos. Carlinhos, virou estrela, segundo uma filha dele informou, em uma pagina da net.