Em janeiro desse ano, às vesperas do nascimento de Alexandre, meu primeiro filho, fui despedido da Cia. Ultragaz, aonde exercia as funções de assessor do departamento de comunicação. Cuidava dos press-releases, acompanhava as campanhas publicitárias, fiscalizava nossos comerciais e cenários do Ultranotícias, espécie de Jornal Nacional na TV Tupi, e vez por outra, representava o vice presidente em ocasiões sociais.
Entrava nos eventos, cumprimentava, assinava livro de presença e pulava fora.Normalmente eram eventos chatos, mas Henning Boilisen, o vice presidente, nutria uma simpatia por mim e, creio, além de não querer ir, achava que me sentiria importante em representá-lo.
Eu gostava mesmo era de ir até a TV Tupi, checar as coisas, bisbilhotar o cenário e bater papo na redação com o Gonçalo Parada, responsável pelo noticiário, patrocinado pela Ultragaz .
Um dia, enquanto, Boilisen estava de férias, recebi a notícia, de que, por medida de economia, haveriam cortes no departamento. Eu e mais dois funcionários fomos os atingidos.
Nesta época, morava numa pequena vila nos Jardins, na rua Caconde 117 c/2.
Numa das casas, que dava fundos pra a vila, morava um advogado, que, de vez em quando, era flagrado de" robe de chambre", passeando com seu cachorrinho pela calçada. Era Marcio Thomaz Bastos, hoje um renomado jurista e ex-ministro.
Na vila em frente a nossa, que existe até hoje, morava o ex-governador Lucas Nogueira Garcez. Enfim, era um lugar que abrigava alguns importantes personagens, e serviu de berço para receber outros não menos importantes.
Eu estava bastante preocupado, pois um desses personagens havia acabado de nascer, e eu precisava trabalhar para sustentá-lo. Aliás, esse , anos mais tarde reencontrou Marcio Thomaz em Brasilia, como advogado da empresa da qual é hoje presidente.
Costumava fazer as compras no Pão de Açucar da Brigadeiro Luiz Antonio, bem perto de minha casa. Era muito comum cruzar com os irmãos Diniz, Abilio, Arnaldo e Alcides, que moravam numa travessa da Brigadeiro e trabalhavam no escritório, ao lado daquela loja. Numa dessas idas ao supermercado, me deparei com aquela figura impar, que era Helio Ribeiro.
Tivera um breve contato com ele, quando trabalhei na Record e ele na Jovem Pan. Criou vinhetas, mudou a cara da rádio, revolucionou. Cruzávamos nos corredores da rádio, e ele contava que era ouvinte do programa, Última Audição, que eu fazia com o meu, já conhecido, irmão Haya . Helio, como eu, era fã de Frank Sinatra, arriscava até cantar alguns sucessos do "blue eyes". Tínhamos sempre o que conversar. Ao final destas nossas conversas, vinha a frase: "Precisamos trabalhar juntos".
E, naquele dia, quando me encaminhava ao supermercado, Helio estava na porta de uma oficina mecânica, aguardando terminarem o serviço em seu carro, um Mustang. Quando me avistou, foi logo perguntando: "gêmeo o que estás fazendo?" "Estou desempregado", respondi. Ele, na mesma hora, enfiou a mão no bolso trazeiro da calça, tirou um papel e me mostrou: "Olha isso, acabei de assinar contrato com a rádio Tupi, mas não conte a ninguém, pois devo assumir a diretoria artística da emissora somente dentro de 15 dias. E o brother ?"Respondi que o Haya estava trabalhando na TV Bandeirantes. Ele disse que não era problema, tiraria o Haya de lá para que a dupla se refizesse. Ele queria os dois.
Na rádio Record, tínhamos um esquema no programa, onde o Haya falava de música brasileira, e eu, pela minha vivência e conhecimento, de música americana. Pensei que o Helio nos queria em seu projeto, por causa disso. Para minha surpresa, ele tinha em mente, algo inusitado. Na cola das escuderias, que eram sensação da época, haja visto que a TV Record tinha um programa, líder de audiência, que era uma gincana feita com escuderias, Helio criou, e queria o nosso comando num projeto chamado "Somos do Amor do Motor e da Flor. Aproveitaria a estrutura das escuderias, que estavam nos quatro cantos da cidade, e a força da rádio Tupi, para fazer o bem ao próximo. Criou o SST - Serviço Social Tupi.
Centenas de milhares de adesivos foram espalhados pela cidade. Não havia taxi, que não exibisse aquele decalque colorido e muito bem desenhado. Carros rodavam a cidade com aqueles adereços e, a todo o momento, uma vinheta na rádio, anunciava a ação dos" volantes da fraternidade ".
Fizemos muitas campanhas, arrecadamos muitas latas de leite em pó, medicamentos, verbas para o Hospital do Fogo Selvagem, Sanatorinhos, promovemos um natal para mais de 400 crianças, foi um trabalho muito gratificante.
Mas um fato, me marcou muito naquela ocasião. Na porta da Tupi, tinha um garoto que engraxava sapatos. Quando Helio assumiu a direção da rádio, permitiu que aquele garoto subisse, o que era proibido, aos andares superiores do prédio, para poder engraxar mais sapatos e assim, ganhar mais, pois o menino sustentava vários membros da família. Tempos depois, o garoto estava na discoteca da rádio catalogando discos, e alguns anos mais tarde, Montival Silva, aquele garoto, ocupava o cargo de superintendente da rádio Capital, que foi montada pelo Helio para Edwaldo Alves da Silva, e de quem, Montival se tornou assessor. Esse era Helio Ribeiro, gênio e visionário. Nossos caminhos se cruzaram muitas vezes mais.
Na foto representando a Cia. Ultragaz em evento no Palacio do Governo, converso com o secretário de Abreu Sodré, Felicio Castelano.
3 comentários:
Lafa,
Que delicia!
Olha só, contada assim, a vida parece-me uma peça de montar.
Toda bem encaixadinha!
Esse é o efeito psi, provocado pela leitura dos contos do grannnnnnnnnnde Lafa!
Beijos,
Borba
Oi Lafa!!! Estou curtindo muito seus contos, pena que só te conhecí 40 anos depois...
Pai,adorei as fotos no blog.
Agora sim!
Beijos
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