Nos anos 60, a cidade de São Paulo era rica em galerias. Eram bem frequentadas como hoje são os shoppings, mas menos elitistas. Eram democráticos e sem ostentação.
Tínhamos e ainda temos, a Galeria Guatapará, Olido, Califórnia, Itapetininga, Nova Barão, R. Monteiro, Grandes Galerias (Galeria do Rock), Ipê, 7 de Abril, Metrópole e outra reminicentes desta época.
Todas ainda charmosas, aonde se encontram ítens únicos, não encontrados em nenhum outro lugar. Aliás, este diferencial as galerias ainda conservam dos anos 60. Lembro-me que comprávamos lâminas de barbear inglesas Wilkson, ou cigarros Phillips Morris com filtro de carvão , perfumes e radinhos de pilhas importados nas galerias do centro da cidade.
A Galeria Califórnia abrigava também um famoso estúdio de gravação, o Magisom, de Gilberto Martins, um dos maiores produtores de jingles do Brasil e aonde meu amigo Berto Filho, com sua incomparável voz, valorizou várias campanhas para rádio e tv. Até eu que integrava um quarteto vocal junto com meu irmão Haya e dois amigos ,gravamos um acetato no Magisom.
O grande diferencial das galerias, é que elas te levam de uma rua para outra ou seja, você faz o percursso por elas para abreviar a caminhada, e ainda usufrui das vitrines de suas lojas.
Tinha também aquelas que eram mais voltadas aos barzinhos, que proliferavam na época da bossa nova. Qualquer barzinho por menor que fosse, tinha um cantinho, um banquinho, um foco de luz e, claro, um violão. Nada de play-backs, como hoje se vê nos botecos da cidade. Começavam a trabalhar por volta das 18 horas e o cast de músicos era bem grande. Havia uma certa rotatividade. O mesmo músico, tocava em vários barzinhos por noite.
Na Galeria Metrópole, Plinio Marcos lançou sua primeira peça no “Ponto de Encontro”, um mixto de livraria e barzinho: “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. Na platéia, pasmem, apenas 6 espectadores. Graças a absurda repressão de nossa ditadura, este incrível trabalho do Plínio, tornou-se texto obrigatório nas platéias brasileiras. A mordaça virou contra o repressor.
Um dos pontos mais frequentados era o Chá Moon, uma casa de chá charmosa e bem frequentada. A partir das 3 horas, começava o movimento. Era um ambiente calmo, excelente para um primeiro encontro, o tão ingles chá das 5, ou mesmo o “scotch”das 6.
Na Metrópole, o forte mesmo eram os barzinhos. Havia pelo menos uns 25. Lembro-me de alguns como o Barroquinho, Barquinho’s Drink, Esquilo’s, Le Club, e o mais famoso de todos,“O Jogral”, do Luiz Carlos Paraná. Lá desfilavam ícones como Leila Diniz, Caetano Veloso, Chico Buarque, Jorge Ben, e a maioria dos músicos, que ao sairem de seus trabalhos iam dar uma “canja” - lembrem-se, eles ainda não viviam de sua arte, todos em início de carreira. Eram grupos inusitados e davam um verdadeiro show de bossa e jazz. A platéia, quase sempre formada por colegas de trabalho.
Tive ainda a oportunidade de participar de um pocket show com Lennie Dale e o Sambalanço Trio, fazendo a iluminação do show. Fomos chamados as pressas e ainda nos deram a incumbência de conseguir um patinho, sim um filhote de pato, pois o Lennie num de seus números cantava “O Pato”, e tinha criado uma ação que, ao iniciar a música usava a pequenina ave. Um garçom trazia uma bandeja com uma taça de “dry martrini”com o patinho dentro, coberto com um guardanapo, ao passar pelo Lennie, ele abruptamente levantava o guardanapo e exclamava “O Pato!” e continuava...vinha cantando alegremente quemquem... O duro foi conseguir o tal patinho. Só achamos no Mercado Central. Mas valeu pois de fato deu um efeito prá lá de especial ao número.
E foi ainda na Galeria Metrópole, no” Jogral”, que Oscar Petterson deu uma “canja unforgettable “. Chegou de repente, levado não se sabe por quem, causando o maior alvoroço. Geraldo Cunha cantava e tocava o violão quando o canadense, sem nenhuma timidez, sentou-se ao piano e aconteceu talvez a maior jam-session que a cidade teve notícia.
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