segunda-feira, 20 de abril de 2009

1965/Boite Oasis


Ficava na Rua 7 de abril, em um “basement”do cine Coral, e era um dos pontos mais procurados pelos boêmios e turistas, que visitavam São Paulo.

A comida era muito boa, mas os “pockets shows” eram a atração maior. Naquele espaço apertadinho, muitas estrelas se apresentaram,  e tivemos o privilégio de participar de algumas dessas performances.

O horário dos shows era os dos verdadeiros boêmios. Invariavelmente começavam após a meia noite. Não era nada confortável para meu irmão Haya e eu, mas tinham lá as suas recompensas, como usufruir daquela comida maravilhosa, que nos era servida, como se fôssemos os melhores clientes da casa.

O primeiro show que dirigimos na Oasis, foi com o Zimbo Trio e Ellis Regina, no auge de sua carreira. Tinham chegado de uma turnê de muito sucesso pelo Peru e Argentina, e o Zimbo havia ganho o Troféu Roquete Pinto de melhor conjunto instrumental.

Fomos  procurados na Rádio Piratininga, onde produzíamos e apresentávamos o programa “Bossa à Noite “, por Roberto, um funcionário de Marcos Lazaro, empresário da cantora, que solicitava nossos serviços para a iluminação e direção de cena do show, que marcaria uma temporada do pessoal na boite.

Achamos a proposta financeira muito baixa e nos recusamos a fazer o trabalho.

Nossa contraproposta foi recusada. Mas no dia seguinte, eis que o emissário de Marcos Lazaro volta a nos procurar, o Zimbo e Ellis, impuseram nossos nomes para  execução daquele trabalho.

Foi uma temporada que deixou boas recordações. Zimbo em grande fase e Ellis, a sensação do momento, vibrando muito com a iluminação que criamos, pois destacava  os movimentos que eram uma marca registrada, das suas interpretações.

Nos bastidores, enquanto aguardávamos o horário de entrar em cena, as conversas sempre agradáveis com o Luiz Chaves, e a paquera com a crooner do conjunto, que fazia a música da casa.

Terminada essa temporada, fomos chamados para mais um trabalho na Oasis.

Dessa  vez, o show vinha do Rio e era uma adaptação da peça de Carlos Lyra e Vinícius de Morais, “Pobre Menina Rica”, e tinha no elenco Baden  Powell e Dulce Nunes, com direção de Ruy Guerra.

Baden , considerado nosso melhor violonista, já conhecíamos, mas nem com Dulce nem com Ruy, tivéramos tido oportunidade de trabalhar.

Ruy era observado pela ditadura em tudo o que fazia daí fazer algo paralelo a seus filmes e composições, como esses pockets shows.

Dulce era mulher de Benê Nunes, um pianista famoso, o preferido do presidente Juscelino, freqüentador da alta sociedade carioca, que  tinha o hábito de abrir as portas de seu luxuoso apartamento para a turma da bossa nova.

Mulher sensível, bonita  e de voz cândida, como a das primeiras intérpretes da bossa nova. Sua presença no palco era encantadora.

Nosso trabalho foi o de  executar a marcação de luz,  já concebida pelo diretor. Alguns palpites na iluminação foram dados, apenas em função das limitações do equipamento da casa.

O mais que fizemos  nesse show, foi admirar a música de Baden, a beleza e interpretação de Dulce Nunes, principalmente em ”Estrada Branca”, composição de Vinícius e Jobim, que Ruy Guerra introduziu no show.

 Infelizmente não tive  a companhia do Luiz Chaves  e nem o conjunto musical da casa tinha uma crooner...

Até a proxima segunda feira


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