segunda-feira, 10 de agosto de 2009

1985/Jornal da Rua


Havia feito um trabalho na TV Bandeirante, no departamento de eventos especiais, que na época era comandado por Caetano Zama, quando recebi a notícia de que o departamento seria desativado. Coloquei a cabeça para trabalhar em um novo projeto.

Aliás, o convite para trabalhar nesse setor da TV Bandeirantes, partira do amigo Ivan Magalhães, que notara o nosso estado emocional com o desfecho do Jornalfone, fato que já contei em post publicado aqui em meu blog.

Morava para Rua Pamplona há pouco tempo, mas já vivia naquela região desde 1970, quando montei meu escritório de assessoria de imprensa e tinha vários amigos na região. Gostava de conversar com os vizinhos do escritório, de casa, costumava fazer minhas compras na própria Pamplona, prestigiando o comércio local. Andava de ponta a ponta na rua, desde a av. Paulista até a rua Estados Unidos.Conhecia cada loja. Meus filhos estudavam no Colégio Assunção, minha agencia bancária, o supermercado, o cinema, lojas de roupas, de discos, enfim tudo que precisasse encontrava na Pamplona e gostava da comodidade de ter tudo ao meu redor.

Percebi que muitos moradores, não sabiam o que tinha tão perto de suas casas. Foi aí que surgiu a idéia: - “Vou fazer um jornal de bairro, que destaque o comércio e os moradores da Rua Pamplona”. Minha mulher, que na época trabalhava em uma produtora de cinema, achou o filão interessante e se propôs a me ajudar nesta empreitada. Demitiu-se do emprego e embarcou comigo nesse novo sonho.

O primeiro passo foi fazer um layout moderno, pois os jornais de bairro na época eram tamanho standard, mal diagramados e mal impressos. Enquanto Ruth cuidava do visual e nós juntos do editorial, saí a campo para fazer uma pesquisa entre os comerciantes, e saber o que achavam da idéia. Aprovação total!

A proposta do primeiro número era um “tablóide” com oito páginas, mas o número de anunciantes era grande. Tivemos que sair com doze. Um deles, que estava inaugurando uma loja de revelação de fotos em 1 hora, na época, uma novidade, comprou a página dupla central do Jornal da Rua Pamplona.

Começamos distribuindo cinco mil exemplares nas residências e comércio, no quadrilátero que compreendiam a faixa da av. Paulista até a Rua Estados Unidos e da Avenida 9 de Julho a av. Brigadeiro Luiz Antonio.

Em pouco tempo saímos do escritório improvisado em casa, para um conjunto comercial na mesma Rua Pamplona. De quinzenal as edições passaram a semanais e, rapidamente,já era o “Jornal da Rua Jardins”, com a distribuição atravessando a Avenida 9 de Julho e chegando na Rua Mello Alves.

No jornal fizemos entre outros o lançamento do Mc Donalds da Paulista, da danceteria Up&Down, da Ag.Banespa Pamplona, e também muitos eventos para a comunidade, com o apoio dos comerciantes e de grande clientes como Coca Cola, Casas Bahia, Banco Itaú, Pão de Açúcar e outros.

Os eventos eram realizados na própria Rua Pamplona entre a Al. Lorena e Rua Guarará.

Fato curioso é que um mês após ter lançado o “Jornal da Rua Pamplona”, meu irmão Haya se entusiasmou e lançou o “Jornal da Rua Joaquim Floriano”, também com muito sucesso. Tempos depois, objetivando aumentar nossa tiragem e atingir uma área maior, unificamos os jornais, que passou a ser simplesmente “Jornal da Rua”. Nossa tiragem já atingia 40 mil exemplares e avançávamos em áreas como Pinheiros e Moema. Modestamente estávamos fazendo escola. O Estado de São Paulo lançou na época um suplemento intitulado “Seu Bairro”, cobrindo as mesmas regiões e com as mesmas características que o nosso Jornal da Rua. Talvez como faltasse a eles aquele a vivência que eu e Haya tínhamos nas regiões não tiveram sucesso. Continuamos crescendo.

Depois de três anos, reunindo a comunidade todo segundo domingo do mês para realizar o Brincando na Rua, tivemos que parar a atividade, pois o fato de fechar uma via como a Pamplona durante toda a manhã de domingo, começou a gerar problemas de trânsito da região.

Nossos eventos saíram das ruas e passaram a ser feitos no Parque do Ibirapuera, no período de férias. Em Janeiro o “Verão no Parque” e em Julho “Férias no Parque”. Instalávamos no estacionamento do MAM paredes de Alpinismo, sala de musculação, palco para aulas de aeróbica, além das atividades para as crianças.

Os moradores da Pamplona sentiram falta daquelas manhãs, onde amigos se encontravam e pediam a volta dos domingos de brincadeira. Para tendê-los, fizemos contato com o Banco Itaú, que gostou da idéia e, além de ceder seus estacionamentos (Pamplona com esquina Caconde, Joaquim Floriano, Rua dos Pinheiros e em Moema), patrocinava todos os custos do evento. Assim fez também o Pão de Açúcar com as lojas de Moema e Itaim Bibi. A Coca Cola dava suporte, além da farta distribuição de refrigerantes. Foi um trabalho bastante gratificante que integrava a comunidade e criava uma boa oportunidade de convivência das famílias e amigos nestas regiões.

Outro destaque do jornal era a coluna “Eu sou da Rua”, que apresentava aos leitores seus ilustres, famosos e ou mesmo curiosos vizinhos. Escritores famosos, músicos, pessoas que viviam na região há muito tempo, contavam suas histórias e seu amor pelo bairro.

O trabalho de utilidade pública foi o grande diferencial do Jornal da Rua. As reivindicações dos moradores e comerciantes locais eram encaminhadas as autoridades competentes e resolvidas rapidamente. Eram pontos de ônibus que mudavam de lugar para facilitar a vida de escolares, solicitação de iluminação em ruas escuras, postos policiais, e até a mudança da denominação da subprefeitura de Pinheiros, na época Administração Regional de Pinheiros, que passou a Administração Pinheiros-Itaim Bibi, mudança feita pelo então prefeito, Janio Quadros.

Muitos políticos, candidatos nos procuravam e, evidentemente, a maioria, só quatro anos depois íamos rever. Mas não nos negávamos a recebê-los. Atender a seus pedidos ficava estritamente ao nosso critério e a interesses da comunidade.

Aos poucos e depois de mais de 12 anos de vida, as coisas começaram a ficar difíceis para manter nosso projeto. O papel encareceu demais e os comerciantes locais passavam por dificuldades, o que nos obrigou a encerrar as atividades, mas com a certeza do dever cumprido.

Hoje, ao ver nas esquinas e faróis os tablóides tão semelhantes ao nosso Jornal da Rua, sinto saudades, mas também uma ponta de orgulho pelo ineditismo desta idéia.

A propósito, o Jornal da Rua foi fundado em 8 de Agosto de 1985 há 24 anos.

Na foto acima, o ex- prefeito Janio Quadros examina o Jornal da Rua na residência de meu irmão Haya,junto com Rames Zugaib, então presidente do Conseg-Itaim e o vereador Andrade Figueira.

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