segunda-feira, 27 de outubro de 2008

1965/Bauru Tem Bossa


Fomos procurados, Haya(meu irmão gêmeo) e eu, por um rapaz de nome Paulo Monteiro, de Bauru, cidade do interior paulista, para fazer um show de bossa nova no Tenis Club da cidade. 
Ele queria bons nomes da bossa, e tinha dinheiro suficiente para as despesas, que não seriam poucas. 
Teríamos que montar uma estrutura dentro de um salão de bailes do club, que tinha apenas um palco. O salão era rodeado por grandes janelas de vidro, sem cortinas, o que levantava o primeiro problema: a afinação da iluminação do show. Claro que não tinham nenhum material para iluminar o show. 
Tivemos que contratar um iluminador técnico. Chamava-se Mané, trabalhava no Teatro Aliança Francesa e foi quem instalou varas, spots, canhões gelatinas, resistência, tudo o que hoje, com um simples botão estaria resolvido, mas que na época, era um monte de trambolho. 
Ah, e a afinação, teria que ser durante a escuridão da madrugada. Mas era uma verdadeira curtição! Enquanto o Mané pendurado em uma escada ia fazendo a instalação dos spots, Haya e eu orientávamos as posições, cores e marcávamos no palco posição de piano, bateria, microfones, etc. Assim passamos aquela madrugada. 
Lá pelas 7 da manhã serviço terminado, roteiro do show elaborado, nos dirigimos ao hotel e só voltamos ao Tenis Clube por volta das 3 da tarde para passar o som. O elenco desse show era composto pelo Zimbo Trio (no auge), Claudete Soares, Pedrinho Mattar Trio, a incrível compositora e cantora Vera Brasil , Manfredo Fest Trio (acho que o último show, antes de se radicar nos states), Marcia, Taiguara e Toquinho, que na época só se apresentava como instrumentista. 
Era um super elenco paulista de bossa nova. Todos estrelas e alguns mais vaidosos que os outros...como toda estrela. Chega a hora de passar o som, vem o pessoal do Zimbo  se manifestando contra o posicionamento do trio no palco. Foi até de forma um tanto indelicada, coisa que nos causou estranheza, pois já haviamos feito outros trabalhos juntos e tínhamos um relacionamento muito cortês. Mas nós eramos os diretores do show e fizemos prevalecer o que havíamos determinado, explicando para o grupo as razões. 
O show foi maravilhoso! Fizemos uma marcação de luz para Taiguara cantando "Formosa"que incendiou a plateia!O Zimbo como era a atração maior encerrou o show tendo que voltar pelo menos quatro vezes para o "bis". Foi um sucesso na cidade. 
Na longa viagem de volta, feita de trem, Sabá contrabaixista do Pedrinho Matar e irmão de Luiz Chaves do Zimbo, nos confidenciou que estava ensaiando com o baterista Toninho Pinheiro e com o pianista Cido Bianchi a formação do Jongo Trio, que lançamos em noite memoravel  no Teatro de Arena junto com  Moracy Do Val. 
Mas a nossa história, não termina aqui não! 
Dias depois, em frente ao João Sebastião Bar, que pertecia ao colunista Paulo Cotrim, encontramos Luiz Chaves. Haya e eu ainda estávamos magoados pela forma como eles haviam se comportado no show de Bauru. 
Luiz era um verdadeiro gentleman. Galanteador, bom papo, se aproximou: "irmãos Hohagen, temos uma dívida com voces", chamou Rubinho e Amilton e foi logo ao assunto "queremos nos desculpar, por nossa atitude em Bauru. O fato é que, ao chegarmos a cidade, berço da família Godoi, nos deparamos com uma quantidade imensa de cartazes do show, com destaque para Pedrinho Mattar, aquilo nos aborreceu muito, pois éramos a atração, o Amilton, da cidade, e só aparecia o Pedrinho! depois, ficamos sabendo, que havia sido ele quem providenciara todo aquele carnaval e não vocês, por isso queremos nos penitenciar e pedir desculpas". 
Foi uma atitude digna daqueles músicos elegantes, extraordinários e de bom carater. Saudades do Luiz Chaves, que já não está mais entre nós.

Na foto acima Haya e Lafayette Hohagen

Um comentário:

Borba disse...

É isso ai Lafa, vê se voce conta tudo, tudo mesmo.
boa sorte, estarei de olho vivo!

abraços,

Borba