segunda-feira, 27 de julho de 2009

1962/Adhemar Ferreira da Silva


Ao longo de meus 70 anos, tive o privilégio de conhecer muitas pessoas com quem me identifiquei, e que considero especiais. Com algumas tive ligações profissionais, com outras, foram relacionamentos de amizade e admiração. Pessoas que fizeram parte de histórias neste blog, e com certeza terei a chance de lembrar e citar outras. Várias já se foram, mas deixaram fortes lembranças.

Era ano de eleições municipais e estaduais em São Paulo. Os políticos se movimentavam para arregimentar o maior numero possível de apoios para suas candidaturas, os mais procurados eram aqueles de prestígio em seus bairros, alguém com destaque na mídia, os ditos “formadores de opinião”, aqueles que pudessem contribuir financeiramente para suas campanhas promovendo reuniões churrascos, enfim aglutinando o maior número possível de pessoas, que pudessem render alguns votos.

Foi para uma dessas reuniões que certo dia fui convidado. O convite me sensibilizava pela comida, bebida e pelo dono da casa, que apesar de aposentado de suas atividades esportivas, era considerado depois de Pelé, o nosso maior ídolo.

Na casa de Adhemar Ferreira da Silva aconteceria o evento. Confesso que não me lembro do nome do candidato que ali se encontrava dando risadas cumprimentando a todos que chegavam inclusive a nós, um grupo de jovens totalmente desinteressados pelo mesmo.

Tinha mais gente ao redor de Adhemar do que do próprio candidato. Travamos um papo ao chegar, contei-lhe que havia chegado recentemente dos “states” e aos poucos fui me ambientando naquela casa bem charmosa no bairro da Casa Verde, vizinha a minha Santa Terezinha. Depois de me perguntar o que queríamos beber, serviu-me uma dose de “White Horse”, chopp a meus amigos e nos deixou totalmente a vontade. Era um verdadeiro gentleman o nosso anfitrião.

Enquanto no quintal rolava um churrasco, caminhei pela casa olhando os objetos de decoração, fotos, medalhas, troféus até que me deparei com um piano. Como até hoje faço, não me contive, abri a tampa do piano e comecei a dedilhar uns acordes. Aos poucos as pessoas na casa foram se chegando ao redor do atrevido pianista, que sem pedir licença tomou conta do instrumento.

Adhemar foi um atleta incrível. O único atleta brasileiro a ganhar 2 medalhas de ouro em Olimpíadas consecutivas. Na da Finlândia em 1952 ao saltar 16,22 metros e em Melbourne em 1956, quando cravou 16,35 metros, tornando-se bi campeão olímpico no salto triplo. Além dos feitos esportivos que foram muitos, Adhemar por sua competência, fineza, educação e cultura se destacou também na diplomacia. Foi adido cultural em Lagos na Nigéria durante 3 anos a convite do Itamarati e representou o Brasil em várias oportunidades.

Naquele dia, enquanto dedilhava aquele piano notei Adhemar se aproximando. Encostou-se e perguntou “Conhece Because of you?” ao que imediatamente comecei a tocar, pensando que queria me ouvir, mas, ele é que queria cantar aquela música. E não é que além de todos os predicados que já tinha, Adhemar era um excelente cantor? Depois veio “Ces ci bom”, cantada num excelente francês, encerrando sua audição, pois não queria ser o centro das atenções, afinal a festa não era dele.

Voltei reencontrar Adhemar em sua casa mais de 25 anos depois, quando o amigo em comum, na época Capitão Marciano, que trabalhava com ele na Secretaria de Bem Estar Social, me convidou para um churrasco lá na mesma Casa Verde. Adhemar era candidato a deputado. Foi um reencontro muito agradável. Lembro-me que chegamos já no final do churrasco e ficamos durante muito tempo conversando, ouvindo música e relembrando o dia que o acompanhei ao piano. Elza a esposa, a filha Adyel, uma afinadíssima cantora e Diego, o neto, por quem nutria um grande carinho, estavam presentes. Ele sempre gentil, fino e cativante. Era uma pessoa especial.

Depois disso encontrei com Adhemar mais algumas vezes, numa delas em um evento que fizemos em 1992 para crianças, patrocinado pela Coca Cola no estacionamento do Supermercado Pão de Açúcar no bairro de Moema e a ultima em 2000 no Estádio do Pacaembu quando acompanhava uma delegação de atletas universitários da UniSantana onde era coordenador de esportes.

A jornalista Tânia Mara Siviero com o apoio da Bolsa de Mercadorias & Futuros produziu um belíssimo trabalho muito bem documentado e ilustrado sobre Adhemar no ano de 2000 e que deu o titulo de “Herói por nós”.

Adhemar Ferreira da Silva faleceu em 12 de janeiro de 2001 aos 73 anos.

Na foto acima Adhemar prestigiando evento para crianças em Moema

4 comentários:

Márcio Macedo disse...

Lafa,
Começo a me tornar repetitivo em meus comentários aqui no seu blog. Porra, queria ter conhecido Adhemar também Negrão fino, fino!!!!!

Abraço do outro preto não tão fino muito menos recordista mundial...

Kibe!

lafayette hohagen disse...

Era um perfeito Lord!Recordista mundial da "finesse".Abraços do Lafa.

Adyel disse...

OI Lafa querido !

Que lindo texto , que carinhoso é você.
Muito obrigada !!

Bjk

Adyel Silva

Jorge Ramiro disse...

Adelmar! Uma grande pessoa, eu acho que alguém asim vale como ouro. Acho que vi outro dia, ele estava em um dos restaurantes em moema. Eu estava no meu carro. Um ídolo!