segunda-feira, 8 de junho de 2009

1982/Jornalfone

Foi uma época de buscas por coisas novas. Estava meio saturado do trabalho com assessoria de imprensa e o momento em rádio não era dos melhores. Para se fazer um programa ou se tinha um nome popular fácil de comercializar ou um bom patrocinador.

Nós havíamos terminado uma temporada de 4 anos com o “Vôo Especial Vasp” na Rádio Bandeirantes e, com a mudança do governo estadual, perdemos o patrocínio da empresa aérea.

O nosso escritório da Rua Pamplona era freqüentado por um número grande de amigos, e sempre alguém com uma idéia, aparentemente, sensacional. Nenhuma vingou, mas estava sempre na expectativa de que minha criatividade despertasse para algo, que pudesse se transformar em projeto viável.

Chegava em casa perto do horário do “Jornal Nacional” ávido pelas notícias, mas raras eram as vezes que conseguia assisti-lo. Primeiro o trânsito, que retardava a minha volta, depois a recepção dos filhos, que me tomava um bom tempo. O “boa noite” do Cid Moreira, era o que mais assistia. Ficava bem isolado do noticiário. Justo num momento, em que queria saber de tudo o que se passava, na esperança de, de repente, uma luz indicar o caminho que procurava.

E não é que foi essa dificuldade, que fez surgir a idéia para desenvolver aquele que, para mim, foi meu melhor projeto profissional?

Pensei comigo... Quantos, por motivos vários, perdem o principal noticiário da televisão brasileira? Na época não tínhamos internet e nem celular.

Liguei para o Haya, meu irmão e perguntei:”E se desenvolvêssemos um serviço através do telefone com notícias renovadas de hora em hora? “ “Grande idéia!” Respondeu do outro lado da linha. Ali começamos o projeto, que foi bem longo e trabalhoso.

Tínhamos muitas etapas a seguir para chegar ao produto final.

Conseguir um parceiro, verificar a viabilidade técnica com a Telesp, na época, a empresa de telefonia de São Paulo, projetar uma estrutura igual a de uma emissora de rádio com seus três setores principais, técnico, artístico e comercial e selecionar profissionais competentes e de nossa confiança para montar a nossa equipe.

Lembro-me que foram várias noites sem dormir, muita ansiedade e muitas conversas.

Fizemos um piloto com um noticiário enxuto de 2 minutos e por telefone mostrávamos para aqueles que queríamos seduzir. Todos gostavam.

Depois chegou a vez de ir a campo atrás do parceiro investidor.

No primeiro contato que fizemos, tivemos uma resposta muito positiva e interessada.

Falei com o amigo Kiko (José Francisco Coelho Leal), que era diretor de marketing da Caloi e que tinha iniciado um processo de diversificação em sua “house”, a Novociclo.

De uma associação com Luciano do Valle, estava trazendo para o Brasil eventos de vôlei, que se transformou no segundo esporte mais praticado e assistido no Brasil.

Kiko gostou muito da idéia do Jornalfone, e pediu que puséssemos o projeto no papel, com as perspectivas de investimento, pois levaria ao conhecimento de sua diretoria.

Muitas reuniões depois, entre Novociclo, Telesp, e Caloi nasceu a Midiafone, que era uma associação da Novociclo com a empresa de Lafayette Hohagen e Haya Hohagen.

Para a Telesp nascia o projeto “Disque 200”, lançado no dia 1 de abril de 1982 com bastante publicidade.

Nossos primeiros canais foram Jornalfone (200-1147), Jornalfone-Esportes (200-1982) e Jornalfone-Historinha-Infantil (200-1234). Em maio lançamos o Jornalfone-Horóscopo e em junho o Jornalfone-Piadas com Ari Toledo.

O noticiário do Jornalfone era confeccionado a partir de agências noticiosas (Estado e France Presse) e rádio-escuta. Eram boletins de 2 minutos de duração renovados a cada 3 horas durante 24 horas.

Nos finais de semana entre 7 horas da manhã de sábado até as 19 horas de domingo, Celene Araujo apresentava uma agenda de lazer e cultura e após esse horário, entrava o resultado da Loteria Esportiva.

O Jornalfone-Esportes contava, além dessa estrutura, com a colaboração de profissionais da área, que faziam a cobertura da Copa do Mundo, e um deles, Luciano do Valle, transmitia boletins diários as 15 e 19 horas. Aos domingos, esse mesmo canal, transmitia Álbum de Figurinhas, que era um boletim dedicado aos saudosistas.

A equipe que fez o sucesso do Jornalfone era composta por redatores, locutores e operadores de som. Eram eles Edson Fernandes, Irineu Silva, Álvares Bittencourt, Tony José, Rubens Pecce, Marco Antonio, Carlos Alberto Perito,Gildo Donizeti Salomão, Celene Araujo, Lidia Sabeli, Jorge Baceto, Formigão e Sidney Lopes.

No segundo dia de Jornalfone, a Argentina invadiu as ilhas Malvinas, o que rendeu ao serviço até meados de junho mais de 3 milhões de chamadas por mes. Reforçamos a equipe com correspondentes em Buenos Aires e a rádio-escuta passou a ser feita através das ondas curtas, trazendo notícias das emissoras argentinas.

Infelizmente o setor comercial que ficara por conta da Novociclo, não obteve sucesso em seu trabalho, o que tornou inviável a continuidade do projeto naqueles moldes.

Um comentário:

Juan Trasmonte disse...

Lafa, por aqueles dias eu acabara de sair do serviço militar, imagina o que foram esses três meses, uma agonia só, pensando que a qualquer hora iam me chamar pra guerra... Mas enfim esses são outros quinhentos.
Adorei o texto e me senti identificado também. Esse nosso trabalho instável, nos faz ser mais criativos por força da necessidade. E sempre dependemos de uma equipe comercial para a que tanto faz a melhor ideia como qualquer coisinha.
Grande abraço