segunda-feira, 15 de junho de 2009

1984/Diretas Já


Mesmo com o fracasso comercial de nosso projeto “Midiafone”, não desistimos da idéia do Jornalfone. Desligamos-nos da Novociclo e decidimos Haya e eu, fazer uma carreira solo. Tínhamos o respaldo e o reconhecimento da Telesp, que nos cedeu dois canais para que desenvolvêssemos nossas idéias.

Criamos o “Correio Sentimental”, que servia para solitários iniciarem uma nova amizade e quem sabe até um relacionamento mais sério. Ali eles anunciavam e suas mensagens eram transmitidas pelo Disque 200. Dividíamos esse canal com o Clube Juventus, e criamos o “ Disque São Paulo “.

O “ Disque Juventus “ funcionava só para divulgar os números de sorteio dos carnês de associados, e o “ Disque São Paulo “ era um verdadeiro boletim com todas as atividades do clube e do time de futebol. Era um trabalho com o respaldo do setor de marketing. Conseguíamos um bom número de chamadas, pois os clubes em suas malas diretas divulgavam os telefones do serviço.

A política fervilhava no Brasil. O país inteiro estava com sua atenção voltada para o Congresso Nacional, aonde seria votada a emenda Dante de Oliveira, que se esperava, traria de volta a eleição direta. As emissoras de rádio e T V estavam proibidas de fazer a cobertura.

Foi aí que meu irmão Haya teve a idéia de furar a censura. Fomos a redação da Folha de São Paulo e propusemos fazer pelo disque 200, boletins de tudo o que se passaria no Congresso durante a votação, com informações fornecidas pela Agencia Folha de Notícias. Abaixo transcrevo nota emitida pela “Folha da Tarde” edição de 27/4/1984.

“Telefone para as diretas: 70 mil

A votação da emenda Dante de Oliveira foi acompanhada, individualmente, por 70 mil pessoas em São Paulo. Impedidas de terem acesso às informações pelas emissoras de rádio e televisão, submetidas à censura imposta pelas medidas de emergência decretadas pelo Palácio do Governo, recorreram ao telefone 200-1727, o “Telefone das Diretas”,um serviço sem censura,que contou com a colaboração da Telesp e da “Folha”.

No período das 10 horas do dia 25 às 2 horas da madrugada de ontem, o serviço telefônico informou, através de boletins gravados e atualizados de hora em hora, os principais fatos que estava ocorrendo no Congresso Nacional. Na madrugada de hoje o “Telefone das Diretas” transmitia a rejeição da emenda, apenas alguns minutos após o encerramento da votação.

Esse serviço foi feito pelos irmãos Lafayette e Haya Hohagen, radialistas, que colheram as informações na redação da Agência Folha de Notícias, transmitidas de hora em hora, por telefone, pela sucursal em Brasília, redigiam e gravavam as mensagens, de um minuto cada, transmitido-as depois para a central da Telesp. Uma idéia que começou a se transformar em realidade nos feriados da Semana Santa quando Haya tomou conhecimento, pelos jornais, da extensão das medidas de emergência, que atingiriam as emissoras de rádio e televisão, proibidas de transmitirem de Brasília a sessão de votação da emenda Dante de Oliveira”

Esse nosso ”atrevimento” está também registrado no livro” O Golpe do Silêncio”,do jornalista Moacir Pereira da Global Editora.

Evidentemente esta nossa rebeldia nos trouxe uma represália, que gerou prejuízo financeiro, mas a herança deixada pelo “velho”Guillermo Hohagen, que durante a sua existência lutou sempre pela liberdade e contra as manifestações de repressão, tão comuns na América Latina daqueles anos, falou mais alto. Pena que ele não tenha testemunhado, sentado na sua poltrona, com aquele risinho maroto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns aos irmãos batalhadores, abraços!